LOSS OF AURA
Exposição com
Carlos Correia, André Alves, André Cepeda, Maria Trabulo, Catarina Braga, Pilar Mackenna

Galeria Pedro Oliveira (Porto, PT)
Curadoria de Luis Pinto Nunes & Susana Lourenço Marques

LOSSOFAURA foi o nome que o artista Carlos Correia deu à editora que fundou em 2012. Bibliografia é o título de um dos quatro livros que publicou ainda nesse ano e talvez o que melhor desvenda a biblioteca de bolso que marcou as escolhas literárias que combinava na sua obra plástica, na sua escrita e nos outros livros publicados. Como referiu João Paulo Queiroz aquando da exposição com o mesmo nome, Desenhar os livros é um memento mori: os livros podem morrer.
É isso que André Alves experimenta na série Material Escavado desde 2012, páginas pintadas retiradas de livros que apropria para reter frases e palavras que se perdem na memória, transferindo autorias e criando um outro universo de interpretação para os seus outros leitores.
A instalação Collecting Dust de Maria Trabulo, remete-nos para mecanismos de exposição da museologia convencional, provocando na ausência da obra a estranheza do espectador. As obras do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), surgem representadas pelo pó e sedimentos, na sequência da limpeza mecânica que a artista realizou nas colecções de escultura, aqui colocadas sobre os plintos provenientes deste museu.
Numa das fotografias em exposição da série Ballad of Today de André Cepeda, vê-se representada uma Vanitas num capitel ornado do Palácio Almada-Carvalhais, o primeiro a ser construído fora das muralhas da cidade por Rui Fernandes de Almada, o mesmo que possivelmente encomendou a pintura de São Jerónimo, a única obra de Albrecht Dürer em Portugal, presente no acervo do MNAA. A degradação do espaço é aqui distante da ruína clássica e da celebrada condição de monumento e memória que lhe é reservada. Na fotogenia da ruína urbana, a fotografia serve afinal para confirmar uma hipótese de existência, incluindo o desolamento crítico que nela se reproduz. É um modo de pensar a vulnerabilidade do monumento como espelho da história.
As maquetas de Pilar Mackenna, dispostas na última sala da galeria, relacionam-se entre si e criam um ensaio sobre a fragilidade do monumento com materiais recolhidos ou fabricados pela própria. São pós-readymades que, através de processos associativos e intuitivos se encaixam, suspendem e sobrepõem, encenando diferentes composições e testando a noção de equilíbrio e tensão.
Por fim, em if a tree falls in a forest and no one is around to hear it, does it make a sound?, Catarina Braga reflecte as problemáticas que mobilizam a crise ecológica actual, com imagens que provocam a ilusão, a distância e o modo como vemos e nos envolvemos com o ambiente natural. As imagens são retiradas da plataforma Google Earth e mostram a floresta da Amazónia, tal como foi captada no verão de 2019, aquando dos assoladores incêndios, motivados pelos interesses da indústria agro-pecuária de Jair Bolsonaro.
A perda da aura que se ensaia na exposição, tem eco na condição sintomática que Walter Benjamin defendeu, mas assume a considerável distância que nos separa dessa condição moderna de apropriação das imagens em direcção à linguagem visual híbrida e ao espaço de mediação absoluta que hoje se experimenta.